Gumbo do Jaime e o medo de ter medo

“The great dish of New Orleans, and which it claims having the honor of invented, is the gumbo. There is no dish which at the same time so tickles the palate, satisfies the appetite, furnished the body with nutriment sufficient to carry on the physical requirements, and costs so little as a Creole Gumbo. It is a dinner in itself, being soup, piece de résistance, entremet and vegetable in one. Healthy, and not heating to the stomach and easy of digestion, it should grace every table.”

(William H. Coleman, ‘Historical Sketch Book and Guide to New Orleans and Environs’)

Inspirada  em uma receita do livro A América de Jaime Oliver, preparei um gumbo, que consiste num ensopado de carne (linguiça, frango, camarão, peixe, caranguejo) com tempero picante, pimentões e legumes.

Na receita do Jamie de 'gumbo de carne temperado', ele improvisou usando batata doce, eu preferi substituí-las pelos quiabos, que são usados na versão tradicional do prato. Foi a primeira  vez que usei quiabo  na minha cozinha. Tinha um pouco de medo desse ingrediente, sempre ouvia falar na tal 'gosma' que criam. Mas a receita era tão fácil que achei que não tinha como dar errado. Além do mais, decidi que superaria o medo dos quiabos :).

Temperei peito de frango em pedaços com uma mistura de alho, cebola, sal, páprica e pimenta de caiena. Deixei tomar gosto enquanto preparava o restante dos ingredientes. Cortei um gomo de linguiça em fatias grossas, uma cebola e meio pimentão vermelho em quadrados, um pedaço de salsão e o maço de quiabos em fatias de um dedo de comprimento.

Numa panela grossa, coloquei azeite de oliva e refoguei o frango e a linguiça até dourarem. Retirei as carnes, reservei, e na mesma gordura da panela, juntei a cebola picada, o pimentão e o salsão (o Jaime chama essa mistura de "Santíssima trindade"), fritei um pouco e juntei duas colheres de farinha (usei de soja), e fui mexendo sempre até fazer um molho grosso e escuro (roux).

Coloquei as carnes de volta na panela, depois o quiabo, juntei os tomates picados e cobri com caldo de galinha quente. Conferi o tempero, provando. Precisou de um pouco mais de sal. Deixei em fogo baixo até cozinhar a carne e o quiabo. Levou uns quarenta minutos. O prato ficou bem caldeado, quase uma sopa, mas com molho grosso devido ao roux preparado no início e acho que também graças ao quiabo.

O acompanhamento tradicional é o arroz bem soltinho, mas desta vez servi com salsa picada, sobre couve-flor em floretezinhos. O ensopado ficou super substancioso, quente e temperado, é uma ótima 'comfort food'.  E o quiabo e eu, daqui para a frente, estaremos em paz na cozinha!